INFÂNCIA FELIZ NO SIRIDÓ
INFÂNCIA FELIZ NO SIRIDÓ
@Arysson Soares
Nasci em Caicó, fui criado em Timbaúba dos Batistas, aqui fui doutrinado por mamãe, grande mestra do bordado a Amar, Respeitar e acima de tudo tornar patriota desta gleba Seridoense. Estudei aqui toda minha vida em escola Pública e em Caicó fui aluno do Diocesano por bolsa, e prestando bem atenção naquela época era punk não tirar uma nota boa hein! Nessa época não se falava nem em bolsa família e nem vale gás. Não ganhávamos uniformes e nem material escolar, não tínhamos nem se quer telefone, aqui pra se falar com alguém tinha que ir ao posto da TELERN. As pesquisas de escola eram feitas em bibliotecas, principalmente na biblioteca da escola. O trabalho era escrito a mão e na folha de almaço como dizia mamãe em papel de enrolar rapadura. A capa dos nossos livros era de encadernação simples. Tinha dever de casa pra fazer e a educação física era de verdade( sempre odiava porque era de manhã cedo). Na escola tinha o gordo, o magrelo, oreia, quatro olhos, Olívia Palito, o minino do sítio, o Cabelo Bombril, o Negão e por aí vai... ahhh e eu era magrelo fazia medo,rsss. Todo mundo era zoado, às vezes até brigávamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a amizade... Era brincadeira e ninguém se queixava de Bullying, existia o valentão, mas também existia quem defendesse. Na escola tinha vez por outra o dia do flúor, o dia de combater os piolhos (na creche), o dia da vacina, o dia de ir no dentista, o bom mesmo era a merenda e o recreio. Urra a merenda! Era tão boa! Canja, sopa, café com leite, suco, bolacha,... etc. mamãe teve um caldo de cana vigi maria eu trazia os mininos e haja dá caldo aos colegas, mamãe nunca brigou. Vez por outra comprava salgadim, pacotinho de paçoca e nosso bolso era cheio de bala ou pirulito... Época que ser gordinho(a) era sinal de saúde e se fosse magro, tínhamos que tomar o Biotônico Fontoura. A frase "peraí mãe" era para ficar mais tempo na rua e não no computador ou no celular...Colecionava-se figurinhas, papel de carta, selos, e o bom mesmo era dinheiro de papel de carteira de cigarro! As brincadeiras eram saudáveis, brincávamos de bater em figurinhas, de jogar bola na quadra, às vezes o jogo de bila no caminho era tudo. Adorava quando a professora usava mimeógrafo e aquele cheiro do álcool no papel da prova tomava conta da sala... Na rua era jogar bola, pula pula, esconde esconde, academia na calçada, pega pega, andar de bicicleta, carrinho de rolemã, empinava pipa, bolinha de gude e ficava na rua até mamãe chamar pra tomar banho e jantar ou almoçar. O bom mesmo era andar com papai e tomar leite no curral, andar a cavalo em busca do sítio Alecrim e outros, assistir pega de boi, vacinação de gado, ver o matadouro cheio de carne de sol boa, espiá a matança de boi búfalo quando vinha do sul, pegar passarinhos, caçar, nadar, tomar banhos nos sangradouros dos açudes, fazer nado no riacho, pegar preá, ir ao roçado, tirar caju com vovô, inventar banda musical cuja bateria eletrônica o som era das latas com couro espichados.
Não importava se meu amigo era negro, branco, pardo, arremiado, coitado, menino, menina, todo mundo brincava junto e como era bom. Bom não, era maravilhoso! Assistia Sítio do pica-pau amarelo, filmes de lutas, fórmula 1 e vários outros... Saudades das novelas que Rei sou eu e tantas outras. Que saudades dessa época em que a chuva tinha cheiro de terra molhada! Época em que nossa única dor era quando passava Merthiolate nos machucados. Felizes em comparação com esse mundo de hoje onde tudo se torna bullying. Nossos pais eram presentes, educação era em casa, até porque, ai da gente se a mãe tivesse que ir à escola por aprontarmos. Nada de chegar em casa com algo que não era nosso, desrespeitar alguém mais velho ou se meter em alguma conversa. Tínhamos que levantar para os mais velhos sentarem. Fico me perguntando, quando foi que tudo mudou e os valores se perderam e se inverteram dessa forma?
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